Mar doce Lar- Conheça o dia a dia de quem vive a bordo
- Fernanda Eid
- 14 de mai. de 2017
- 4 min de leitura

“Por hora, estou feliz com isso. Dá a sensação de "quebrar o sistema". Todo mundo trabalha de segunda a sexta em um ciclo sem fim. Depois do trabalho, você chega em casa, senta na frente do seu computador, e se prepara para começar tudo de novo no dia seguinte. Torce pelo fim de semana, que vai ser regado do "mais do mesmo": balada, barzinho ou netflix. Eu cansei disso, sabe?! Queria algo mais que apenas crescer, colocar um pentelho no mundo e morrer.
Por quê?! Porque a sociedade dita que é isso que você tem que fazer pra ser feliz. Arrumar alguém, casar, endividar-se para pagar por uma casa durante anos e criar um futuro para o seu filho. É uma forma de ser feliz. Muita gente é feliz assim. Eu não sou.
Carro, casa, bens materiais... isso pode até ser importante, mas o que vale para mim é ter uma história para contar. É olhar para aquela foto que tirei há dois anos e dizer: "puta, nesse dia eu visitei o Vaticano".
(Peterson Raasch)
Aposto que já pensou o quão incrível seria viajar o mundo trabalhando. Você pode ser jornalista, representante de marcas, trabalhar com relações internacionais, em uma multinacional ou com turismo mesmo. Mas, já imaginou como é a vida de quem trabalha em a bordo? Aliás, você já pensou como seria trabalhar em um navio? Nada é mil maravilhas e com certeza tudo tem o seu lado bom.
O Cola aí conversou com o Peterson Raasch de Oliveira, assistente de lojas em cruzeiros e com a Talita Ribeiro, que trabalha com recreação infantil e eles compartilharam suas experiências. Peterson tem 27 anos, trabalha em navios há três e já viajou 59 países. Disse que de cidades ou estados já perdeu a conta. A maior parte dos lugares que ele viaja é a bordo do navio onde ele trabalha. ”Não pretendo parar tão cedo”, disse o viajante que vê a família de seis em seis meses quando acaba cada itinerário.

Diferente de um trabalhador tradicional, Peterson tira férias de até dois meses, porém afirmou que não tem dia de folga no navio e sim horas. Segundo ele, isso já é comum e o bom é que possuem bastante tempo livre quando o navio está ancorado. Ruins na verdade são os dias de navegação, nos quais eles podem trabalhar até onze horas, com apenas duas horas de folga intercaladas: ‘Um dia de navegação é, tipo: meia noite até às nove você dorme (ou vai beber, comer, o que quiser), às nove começamos, vamos até às doze da tarde, temos uma hora livre, depois é direto até às seis, outro tempo de refeição, aí, das sete às dez”, disse.
Todas essas viagens proporcionaram a Peterson o aprendizado de diversos idiomas: “Sempre tive paixão por línguas. Fui aprendendo na marra, lendo livros, assistindo filme, desenho, falando com passageiro, lendo manual de produto em outras línguas. Não sou fluente, mas me comunico muito bem em espanhol, italiano, francês e alemão. Sei alguma coisa de russo. E reconheço uma coisa ou outra de mandarim. Mas isso porque eu corri atrás”, afirmou ele.

Para dormir, geralmente são duas pessoas do mesmo sexo na cabine com banheiro privativo; casais podem negociar uma individual. E são todos separados por categorias. Se o funcionário quiser aproveitar alguma festa, deve estar inteiro no dia seguinte às 9h, pois se abusar da bebida, a tolerância é zero. Malas e o caminho de volta para casa.
Quando questionado sobre salário, o vendedor disse que é relativo. Depende do mês. O mínimo que já tirou foi por volta de 2.700 reais e o máximo 5.900, levando em consideração que não se paga por comida, água ou luz. “Em seis meses, se você souber economizar, dá para voltar para casa com uns 17 mil reais”, completou.
Maior perrengue: ser deixado nas ruas de São Petersburgo, bêbado, às três da manhã após ser enganado como trouxa por duas russas, que levaram toda minha grana. Mas, no fim, recuperei o dinheiro perdido.
Melhor momento: chegar às Terras Altas, na Escócia. Era um sonho que tinha desde que me entendo por gente.
Futuro: sonho com uma vida simples, com minha casa entre uma montanha e um lago. Um vilarejo, pra ser sincero. E definitivamente, não no Brasil.

Desde 2011, Talita Ribeiro trabalha a bordo com animação infantil com crianças de 3 a 12 anos e disse que o navio é como se fosse um hotel gigante misturado com uma cidade: “Imagina que todo trabalho que existe em um hotel aqui também tem; como padaria, costureiro, tapeceiro, carpinteiro e pintor.
De acordo com Talita, entre tripulantes e passageiros, há cerca de 5 mil pessoas, dependendo do tamanho do navio. “Atualmente eu estou no Costa Pacifica que são três mil e 600 passageiros e mais ou menos mil tripulantes”, disse. A bordo, ela conheceu gente de todo o mundo e que nunca imaginou em conhecer. Ela afirmou que o preconceito não deve existir, pois a aceitação faz parte de viver ali, pois há todo tipo de pessoa, religião, opção sexual e costumes. “E é engraçado quando você vai tomar café da manha e vê gente comendo tipo arroz às oito da manha, mas faz parte”, afirmou.
A oportunidade apareceu quando por curiosidade ela enviou o seu currículo e foi selecionada. Sem certeza de que seria a escolha a certa, acabou embarcando. Hoje possui francês básico, inglês e espanhol fluentes e italiano quase como sua segunda língua. Já conheceu mais de 25 países. “As experiências que eu tive, boas e ruins são coisas que te fazem crescer como pessoa. Aqui e tudo é mais intenso. Você vai da felicidade extrema ao nervosismo em questão de segundos. Mas é tudo muito valido”, afirmou Talita sobre sua experiência.
Gostou? Para aplicar, Peterson indicou o site da Infinity Brasil, já a Talita entrou pelo Portside. O mais importante para trabalhar em navio é ter o inglês fluente, pois sempre estão precisando de gente. Ficou interessado? Se inscreva, quem sabe daqui alguns anos você não estará falando vários idiomas e com vários países na bagagem. ;)
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